O Pássaro da alma

O Pássaro da alma

O Pássaro da alma

 

 

Obra de grande beleza poética, dirigida a todas as idades, mas especialmente aos mais pequenos, que é um bestseller no país donde a autora é natural, Israel, e em muitos outros onde tem sido traduzida. A relação entre a nossa alma e nós mesmos é explicada de forma delicada e poética neste livro. Esta obra foi galardoada com o Primeiro Prémio Internacional atribuído pela Fundação Espaço Crianças em Genebra no ano de 1993.

 

 

O Pássaro da Alma é da autoria de  Michal Snunit
 

 

 

 

 

"No fundo, bem lá no fundo do corpo, mora a alma.
Ainda não houve quem a visse,
Mas todos sabem que existe.
E não só sabem que existe,
Como também sabem o que lá tem dentro.
 
Dentro da alma,
Lá bem no centro,
Pousado numa pata,
Está um pássaro.
E o nome desse pássaro é o pássaro da Alma.
E ele sente tudo o que nós sentimos:
 
Quando alguém nos magoa, o pássaro da alma agita-se para lá e para cá
 
Em todos os sentidos dentro do nosso corpo, sofre muito.
 
Quando alguém nos ama,
O pássaro da alma dá pulinhos
De contente,
Para trás e para a frente,
Vai e vem.
 
Quando alguém nos chama,
O pássaro da alma põe-se logo à escuta da voz,
A fim de reconhecer que tipo de apelo é.
 
Quando alguém se zanga connosco,
o pássaro da alma recolhe-se dentro de si,
Tristonho e silencioso.
 
E quando alguém nos abraça, o pássaro da alma
Que mora no fundo, bem lá no fundo do nosso corpo,
Começa a crescer, crescer,
Até encher quase todo o espaço dentro de nós,
Tão bom para ele é o abraço.
 
Dentro do corpo, no fundo, bem lá no fundo, mora a alma.
Ainda não houve quem a visse,
Mas todos sabem que ela existe.
E ainda nunca,
Nunca veio ao mundo alguém
Que não tivesse alma.
Porque a alma entra dentro de nós no momento em que nascemos
E não nos larga
- Nem uma só vez –
Até ao fim da vida.
Como o ar que o homem respira
Desde a hora em que nasce
Até à hora em que morre.
 
Decerto querem também saber de que é feito o pássaro da alma.
Ah, isso é mesmo muito fácil:
É feito de gavetas e mais gavetas.
Mas não podemos abrir as gavetas de qualquer maneira,
Pois cada uma delas tem uma chave para ela só!
E o pássaro da alma
É o único capaz de abrir as gavetas dele.
Como ?
Pois isso também é muito simples:
Com a segunda pata.
 
O pássaro da alma está pousado numa pata,
E com a outra – que em descanso está dobrada sob a barriga –
Roda a chave da gaveta que quer abrir,
Puxa pelo puxador, e tudo o que está dentro dela
Sai em liberdade para dentro do corpo.
 
E como tudo o que sentimos tem uma gaveta,
O pássaro da alma tem imensas gavetas.
A gaveta da alegria e a gaveta da tristeza.
A gaveta da inveja e a gaveta da esperança.
A gaveta da desilusão e a gaveta do desespero.
A gaveta da paciência e a gaveta do desassossego.
E mais a gaveta do ódio, a gaveta da cólera e a gaveta do mimo.
A gaveta da preguiça e a gaveta do vazio.
E a gaveta dos segredos mais escondidos,
Uma gaveta que quase nunca abrimos.
E há mais gavetas.
Vocês podem juntar todas as que quiserem.
 
Às vezes uma pessoa pode escolher e indicar ao pássaro
As chaves a rodar e as gavetas a abrir.
E outras vezes é o pássaro quem decide.
Por exemplo: a pessoa quer estar calada e diz ao pássaro para abrir
A gaveta do silêncio. Mas ele, por auto-recriação,
Abre-lhe a gaveta da fala,
E ela desata a falar, a falar sem querer.
 
Outro exemplo: a pessoa quer escutar pacientemente
- E em vez disso ele abre-lhe a gaveta do desassossego
Que faz com que ela se enerve.
 
E acontece que a pessoa tenha ciúmes sem qualquer motivo.
E que estrague justamente quando mais quer ajudar.
Porque o pássaro da alma nem sempre é disciplinado
E às vezes dá-lhe trabalhos...
 
Agora já compreendemos que cada homem é diferente do seu semelhante
Por causa do pássaro da alma que tem dentro de si.
O pássaro que em certas manhãs abre a gaveta da alegria,
E a alegria jorra para dentro do corpo
E o dono dele fica feliz.
 
E quando o pássaro lhe abre
A gaveta da raiva,
A raiva escorre de dentro dela e
Domina-o totalmente.
E até que o pássaro
Volte a fechar a gaveta
ele não pára
De se zangar.
 
E quando o pássaro está de mau humor
Abre gavetas que dão mal-estar.
 
E quando o pássaro está de bom humor
Escolhe gavetas que fazem bem.
 
E o mais importante – é escutar logo o pássaro.
Pois acontece o pássaro da alma chamar por nós, e nós não o ouvirmos.
É pena. Ele quer falar-nos de nós próprios.
Quer falar-nos dos sentimentos que estão encerrados nas gavetas
Dentro de nós.
 
Há quem o ouça muitas vezes.
Há quem o ouça raras vezes,
E há quem o ouça
 
Uma única vez na vida.
 
Por isso vale a pena
Talvez tarde pela noite, quando o silêncio nos rodeia,
Escutar o pássaro da alma que mora dentro de nós,
No fundo, lá bem no fundo do corpo."
 
 
In Pássaro da Alma

  

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